“ONDE A PORCA TORCE O RABO”

04/09/2015 10:21

Frederico Spencer

 

Em alguns casos já nos atrevemos a receitar um remédio para um amigo, na tentativa de vê-lo mais feliz, como também a fazer poesia, versos românticos na maioria das vezes, em algum momento da vida. Os bilhetes de amor e a receita, ao menos de um chá, já nos ajudaram a salvar muitos relacionamentos mostrando assim que estamos atentos às pessoas mais próximas.

“A porca torce o rabo”, conforme Affonso Romano de Sant’Anna - título de um texto que o poeta mantém pronto e o envia para aqueles que pedem sua opinião sobre seus trabalhos – quando, na maioria dos casos, gostando do retorno dos bilhetinhos de amor, nos dedicamos a escrever poesia mais regularmente e começamos a guardar, na velha gaveta da cômoda, os nossos sonhos de poeta, pensando em editá-los num livro em algum dia.

É fácil ver a quantidade de pessoas que dizem gostar e também que fazem poesia, inclusive, no meio acadêmico a poesia resiste ao tempo e ressurge como ferramenta importante na educação de jovens. Recentemente, numa visita a uma turma de pedagogia vimos o interesse dos alunos em fazer e entender poesia. Declamações de versos consagrados e também da produção de alguns daqueles futuros professores nos deixaram atônitos pelo volume e pela qualidade dos trabalhos apresentados.

Sem fazer nenhuma crítica, referente ao fazer poético, é preciso entender que poesia é forma e conteúdo. É fácil ver que a grande maioria dos futuros poetas se contenta com uma só fatia do bolo. Ou trazem um texto com rimas ortodoxas ou trazem um texto panfletário, em ambos os casos o conteúdo do poema é sacrificado o que mostra que o futuro poeta ainda é refém da linguagem, porque não consegue fugir do coloquial.

Poesia, acima de tudo é imagem, ritmo e o fingimento do poeta, conforme Fernando Pessoa, para não entregar suas armas na primeira leitura. As metáforas, colocando as interrogações do leitor nas entrelinhas, são a salvação do poema como tal, o contrário é conversa de bar, coisa coloquial jogada fora.

Poesia também se faz através da leitura de poesia e de todos os outros gêneros, além da leitura da realidade que nos circunda. A arte é reflexo do momento histórico, social e político. O poeta é antes de tudo uma antena de seu tempo, ser agnóstico, que decodifica os sinais recebidos.