O DISCURSO E SUA PRÁTICA – QUESTÕES HISTÓRICAS

08/07/2015 10:07

Frederico Spencer

 

O uso da palavra como forma de vencer contendas aparece pela primeira vez na Grécia antiga quando os sofistas começam a passar seus ensinamentos para os jovens da aristocracia grega preparando-os para o uso da oratória, como forma de persuadir pessoas. O maior interesse destes jovens pela oratória dava-se em detrimento da política.

Com o surgimento das cidades, a palavra adquire um valor incalculável para as novas relações de poder que ali se estabeleciam, tornando-se um instrumento poderoso para a formação do discurso ideológico. A manutenção das elites no poder passa a depender do bom uso da palavra. A chegada da nova ordem pedia eloquência verbal como condição primordial para o homem poder ocupar posição na nova estrutura social.

A vida social e as relações entre os homens, com o aparecimento das cidades, passam a ter um desenho diferente onde, nem as guerras nem as contendas particulares, de forma isolada não definiam relações de poder, mas, também a arte de influenciar pessoas tinha seu peso.

A nova linguagem passa a moldar o pensamento do homem que surge a partir da criação da urbanização como modo de vida. A fixação da nova ordem social e econômica impõe novas relações de poder e prestígio, a política surge como meio de equalização das forças sociais que ali surgiam.

Era nas ágoras da Grécia antiga onde o povo se reunia e discutia a solução dos problemas que envolvia a vida de todos. A democracia exigia a prática da oratória como forma de instrumento para se vencer uma guerra, a guerra da persuasão, do convencimento em prol de uma causa particular.

No mundo moderno a linguagem desempenha um papel primordial para a fixação e crescimento do homem no meio social, pois, ela constrói relações de ordem cultural que forma o modo pelo qual uma sociedade pensa, fala e interage. O desenvolvimento das cidades e de suas estruturas impõe a todos os cidadãos uma maior especificação no trato com a arte da fala e de sua expressão.

Porém, é na área da política onde se dá sua maior especificidade pois, o conteúdo da informação tem como plano levar para um número maior de pessoas as mensagens dos grupos de poder, impondo a todas as pessoas os traços culturais destes grupos como modelos de comportamento e de visão de mundo. Neste sentido cria-se um processo de aculturação, impondo às classes mais vulneráveis padrões e formas de pensamento, alinhados com o modelo ideológico vigente.

A produção artística nas sociedades vem de encontro a este processo quebrando sua hegemonia, pois a linguagem das artes rompe com a padronização do pensamento coloquial que transforma o homem em máquina de produção. Buscando o símbolo, não como referência, mas como partida, abre novos espaços na mente humana onde estão depositados seu humanismo e sua vontade de sonhar, de enxergar-se além da vida cotidiana.

O homem é o único animal que desenvolveu a capacidade de ver o resultado de suas ações presumindo seu futuro, seu mundo cultural diante da exuberância da natureza que o rodeia e o eleva à categoria de humano, regada aos discursos ideológicos que permeiam a estrutura de poder e pressão.

Desta forma, o grande Nietzsche nos deixou o seguinte pensamento: “Temos a necessidade da arte, mas só precisamos de uma parte do saber”. Debrucemo-nos então sobre esse pensamento para vivermos modernamente.